Novo
Sistema de Aplicação desenvolvido
pelo CBB (Centro Brasileiro de Bioaeronáutica),
também já é utilizado
pela Águas Claras Aviação
Agrícola Ltda. Leia abaixo reportagem
da revista Campo & Negócios:
BVO melhora aproveitamento
de defensivos.
Dois fatores são essenciais
hoje em dia, em tudo quanto se refere
à agricultura: menor custo de
produção e baixo impacto
ambiental. Neste sentido, uma técnica
desenvolvida no Brasil, a partir da
adaptação de um sistema
inglês, está revolucionando
a aplicação de defensivos
agrícolas por via aérea
para controle de pragas em lavouras
de ciclo anual, como soja e algodão.
Trata-se da tecnologia chamada de BVO
- Baixo Volume Oleoso, desenvolvida
pelo Centro Brasileiro de Bioaeronáutica
- CBB, que consiste na aplicação
de produtos químicos com base
oleosa, ou seja, envolvendo o produto
ativo em óleo, o que evita a
evaporação e permite que
se use gotas muito finas, mais adequadas
para o controle de pragas e doenças.
Esse sistema proporciona economia de
10 a 30% dos defensivos; aumento de
produtividade e menor impacto ambiental.
aplicaçâo
convencional |
aplicaçâo
em BVO |
De acordo com o Engenheiro Agrônomo
e Doutor em Agronomia pela ESALQ/USP,
Marcos Vilela de M. Monteiro, diretor
do CBB, as aplicações,
em que os produtos químicos são
diluídos em água, não
permitem a aplicação de
gotas finas porque elas evaporam. Para
que isso não aconteça,
é preciso fazer gotas com volumes
10 a 30 vezes maiores que o necessário.
"Desta forma, há desperdício
de produto. Além disso, nas aplicações
de Alto Volume, com 30 a 40 litros por
hectare, o rendimento dos aviões
é muito baixo: 60 a 80 hectares
em uma hora. Com a redução
para 5, 6 ou 8 litros por hectare, é
possível dobrar o rendimento
dos aviões, explica Marcos Vilela.
Ela afirma que o Brasil tem um desafio
que pode ser vencido com ajuda do sistema
BVO: "vão ser plantados
19 milhões de hectares de soja.
As doenças tardias vão
exigir duas aplicações
adicionais em um mês. Teremos
então 33 milhões para
serem aplicados em um mês.
Toda a nossa frota de aviões
agrícolas não faz 15 milhões
em um ano. Temos que dobrar o rendimento
e dobrar a frota - que atualmente é
de cerca de mil aviões - no espaço
de tempo mais curto possível,
entre 3 e 8 anos, senão não
vamos poder expandir o plantio de soja.
Não adianta aumentar 20% em um
ano e perder 30% por ataque de doenças.
Teremos que nos rearticular, pois o
tratamento terrestre é impraticável
pela velocidade em que precisamos fazer
as aplicações. Então,
temos que desenvolver sistemas oleosos
para aplicação aérea,
aumentar o rendimento dos aviões,
e aumentar o número de aviões
em operação", afirma
Vilela.
Como surgiu o BVO
O Sistema BVO foi desenvolvido pelo
próprio Marcos Vilela, a partir
da adaptação às
condições brasileiras
de técnicas que já eram
utilizadas desde 1947 pela inglaterra
para controle de mosquitos e gafanhotos.
Na década de 70, cientistas ingleses
desenvolveram o conceito de gota de
ótima eficiência biológica
e criaram a técnica de Ultra
Baixo Volume - Ultra Baixa Dosagem (UBV-UBD),
produzindo neblinas com espectro muito
homogênio e tamanho de gota controlado
com uso de Atomizadores Rotativos de
Disco (ARD).
A partir da década de 80, uma
nova forma de aplicação
de inseticidas em UBV se desenvolveu
no mundo inteiro e se baseia na utilização
de óleos vegetais (ativados ou
não com solventes e emulsificantes),
como veículo dos inseticidas,
fungicidas e herbicidas. Ativados pela
adição desses aditivantes
especiais, os óleos vegetais
se misturam facilmente com os inseticidas
no campo, formando emulsões invertidas
quando misturados com água, permitindo
as aplicações em baixos
volumes, com menor evaporaçõa
das partículas.
No Brasil, esta nova tecnologia de
aplicação de defensivos
para lavouras de soja e algodão
foi desenvolvida pelo CBB, a partir
de 1998, com a denominação
de Baixo Volume Oleoso - BVO. Marcos
Vilela explica que se trata de uma tecnologia
de aplicação adequada:
tamanho de gota, capacidade de penetração
e formulação adequada.
Outro detalhe a se observar é
o tempo: "Através de treinamento,
mostramos aos técnicos e aos
agrônomos que não adianta
realizar a aplicação em
condições adversas de
tempo, como ventos muito fortes ou chuviscos.
É preciso respeitar as condições
atmosféricas e fazer a aplicação
com tempo calmo, temperatura até
32 graus, umidade relativa do ar entre
32% e 40%, diz Vilela.
O agrônomo conta que o sistema
BVO é uma adaptação
à necessidade brasileira, desenvolvendo
a formulação das misturas
oleosas a nível de campo, usando
um veículo facilmente encontrado,
que é o óleo de soja.
"O que fizemos foi desenvolver
o equipamento, que era de trator, para
uso em avião. Fizemos todos os
testes tecnológicos que permitiram
lançar o sistema, que está
indo muito bem". No ano 2003, o
comandante Rui Alberto Textor, proprietário
da Aerotex Aviação Agrícola,
em Montividiu (GO), foi o primeiro a
colocar um atomizador rotativo de disco
dentro de um avião, com orientação
do CBB. "Desenvolvemos um avião
no primeiro ano, cinco no segundo, 60
no terceiro e, este ano, pretendemos
fazer mais cem aviões, chegando
a 20% da frota brasileira. Foi o sistema
mais rápido desenvolvido até
hoje", comemora ele.
O CBB já introduziu a tecnologia
do BVO em quase uma centena de empresas
de aviação agrícola
e operadores individuais, nos últimos
quatro anos, em quase todo o território
nacional. Equipou também três
aeronaves em Santa Cruz de La Sierra,
na Bolívia. Em todos os projetos
os resultados obtidos foram considerados
excelentes e em nenhum deles os operadores
retornaram ao sistema convencional após
utilizar o sistema BVO. "Além
de não ter havido nenhuma reclamação
de que o produto não tenha funcionado,
todos usuários tiveram aumento
de produtividade das aeronaves, de mais
ou menos o dobro do que na safra anterior",
informa Marcos Vilela.
O CBB estima que, no ano passado, pela
quantidade de óleo vendido, foram
pulverizados dois milhões de
hectares, só no sistema BVO.
Este ano, a área atingida deve
dobrar. O Grupo Mônica, do Mato
Grosso, foi o primeiro a usar o BVO
em larga escala. O resultado foi que
os aviões passaram a pulverizar
190 hectares por hora, ao invés
dos 86 costumeiros. Comparando os resultados
com a técnica convencional, o
agrônomo diz que com o BVO "realmente
não é possível
encontrar algum bicudo vivo após
a aplicação, como acontece
com a aplicação convencional.
Com a lagarta também, a eficiência
no controle é muito maior, porque
a gota é mais adequada para combatê-la",
explica Marcos Vilela.
Antes do início das aplicações,
é feito um estudo para saber
qual a praga que a entomologistas vão
observando o ciclo das pragas e avisam
a hora certa de começar o combate.
Neste ponto de infestação,
o efeito residual da aplicação
com óleo dura de 7 a 10 dias,
ou seja, 3 a 5 dias a mais que em uma
aplicação convencional.
Isso, no ciclo da lavoura de algodão,
gera uma economia de 20 a 30% no número
de aplicações
NOVA TECNOLOGIA
"É uma excelente economia",
afirma o diretor do CBB. O Grupo Mônica,
por exemplo, economizou 600 horas de
vôo, o que equivale a R$600 mil,
fora a economia de defensivos, que é,
no mínimo, de 20%. Wander Carlos
de Souza, de Acreúna, maior produtor
individual de algodão, que gasta
cerca de 2, 5 milhões de dólares
por ano com defensivos, economizou na
mesma porcentagem. "Tivemos um
produtor que ficou muito impressionado
com o efeito residual: ele chegou a
ter um intervalo de 15 dias entre as
aplicações no combate
ao bicudo", relata Marcos Vilela
Monteiro.
LIMITES DO SISTEMA
O próprio agrônomo que
desenvolveu o Sistema BVO faz questão
de ressaltar que ele não faz
"só maravilhas". "Ele
é um sucesso muito grande no
algodão e na soja, mas tem alguns
problemas: os técnicos precisam
ser bem treinados e bastante dedicados.
Também é preciso cuidado
especial com as derivas: quando aplicado
com ventos muito fortes, estes podem
levar o produto a queimar culturas laterais.
É um problema de aviação
como um todo, mas no caso do BVO este
problema é potencializado. O
piloto tem que tomar um cuidado muito
grande para uqe o vento só leve
a deriva dele para o lugar certo",
ensina Marcos Vilela Monteiro.
Por enquanto, o BVO é usado
no controle de pragas de culturas anuais,
como o bicudo e a lagarta, entre outros,
mas sua utilização está
sendo testada também contra a
ferrugem, já com alguns resultados
positivos. "Vamos ter que estudar
qual o diâmetro de gota mais adequado
para a penetração na soja,
qual o melhor volume para que este tratamento
tenha o melhor rendimento.
Por sorte, este ano os primeiros resultados
foram altamente estimulantes. Tivemos
7 sacas a mais por hectare só
pelo fato de aplicar o fungicida em
óleo. A eficiência dele
aumentou significativamente quando a
gente colocou óleo, aplicou com
a gota correta e ele penetrou mais na
copa da planta. A maior dificuldade
era atacar a doença no meio e
no 'baixeiro' da soja e o BVO tem essa
capacidade de penetrar mais que a aplicação
convencional", afirma Marcos Vilela.
Os tratamentos de pragas e doenças
realizados no Sistema BVO têm
demonstrado consistentemente melhor
controle e maior efeito residual do
que os tratamentos convencionais feitos
com água, com volumes de 20 a
40 litros por hectare. É que
se obtem maior depósito de princípio
ativo tanto no terço superior
como no terço médio da
soja, utilizando-se aplicações
em BVO a 8 litros por hectare, do que
os depósitos obtidos com até
40 litros de água por hectare.
O QUE É O CBB.
O Centro Brasileiro de Bioaeronáutica
CBB é hoje sinônimo de
alta tecnologia em aviação
agrícola. Ele foi criado em Ribeirão
Preto em 1998, com apoio da Garcia Aviação
Agrícola Ltda., para promover
pesquisas, treinamento e consultoria
em aviação agrícola.
Nesses cinco anos, o CBB, realizou dezenas
de cursos de treinamento em aviação
agrícola nos estados de Mato
Grosso do Sul, Goiás e São
Paulo, capacitando mais de 400 técnicos.
O CBB presta consultoria para implantação
técnicas de Baixo Volume Oleoso
e fornece aos seus clientes toda a assistência
técnica necessária, equipamentos
e montagem da infra-estrutura operacional
para denvolver as formulações
e realizar as aplicações
de defensivos em BVO.
Além do Sistema BVO, o CBB já
desenvolveu outras tecnologias, sendo
que já são operacionais
a AG-LET (quebra-vórtices certificado
pela Indústria Aeronáutica
Neiva), Turboaero (Atomizador Rotativo
de Disco para aplicações
em Baixo Volume Oleoso - BVO) e a Tetraer
(distribuidora de sólidos de
baixo arrasto de fibra de vidro resistente
a abrasão).
O CBB também está com
várias pesquisas em andamento:
Pulverização Eletroestática,
Vôo Agrícola Noturno, Sensores
Meteorológicos, Papéis
Sensíveis a Água e Óleo
e Monitoramento Aéreo da Ferrugem
da Soja.
DEPOIMENTOS:
"Utilizo o sistema BVO desde a
safra 2001/2002 e percebi uma significativa
redução de custos na aplicação
e maior eficiência". Jorge
Cunha Cruvinel - agricultor de Caiapônia
(GO)
"Conseguimos uma economia de 10
a 30% em defensivos; maior eficiência
na aplicação; aumento
de produtividade e menor impacto ambiental".
Leslie Dias Franco - engenheiro agrônomo
da Sementes Farroupilha em Patos de
Minas (MG)
"Começamos a trabalhar com
o BVO na safra 2002/2003 e nossa aeronave
triplicou o rendimento, otimizando o
gasto com combustível. O sistema
proporciona maior rendimento em área
aplicada em hora vôo e melhor
eficiência dos produtos. Tivemos
alguns problemas com falta de mão-de-obra
qualificada e a difícil formulação
para aplicação, mas as
vantagens são maiores e iremos
continuar utilizando o sistema".
Mauro Antônio Barbosa - gerente
técnico do Grupo Paschoaletti,
Palmeiras de Goiás (GO)
"Aumentou o rendimento e eficiência
na aplicação". Belchior
Braz Parreira - agricultor de Paranaúna
(GO)
PRINCIPAIS VANTAGENS DO BVO:
:: Aumento da produtividade da lavoura;
:: Economia de 10 a 30% dos defensivos;
:: Aumento de produtividade das aeronaves;
:: Menor impacto ambiental;
:: Maior confiança no sistema
de defesa fitossanitária praticado
pelo agricultor e pela empresa de aviação
agrícola.
PRINCÍPIOS DO BVO:
A tecnologia de aplicação
em Baixo Volume Oleoso - BVO, baseia-se
nos seguintes princípios:
:: Aplicação de defensivos
com volumes de 2 a 10 litros por hectare;
:: Neblina homogênea e com tamanho
de gota controlada;
:: Óleo de soja degomado como
veículo do princípio ativo;
:: Água para completar o volume
de aplicação mais eficiente
para um determinado tratamento;
:: Mistura orientada do óleo,
emulsificante, defensivos e água,
com agitação intensa e
contínua, produzindo emulsão
invertida estável e com baixo
índice de evaporação.